Agora eu entendo

Adeus, e foi embora. Não olhou para trás. Para frente, também não. Pegou o meu coração, dilacerado, e levou no bolso. Sem dó. Sem piedade. Sem pedir. Fazia algum tempo que ensaiava a partida. Não pensei que esses ensaios, tão dolorosos, tornariam-se um show de horrores em que a platéia era apenas eu. Sentia um gosto amargo, das lágrimas que fogiam dos meus olhos em direção ao canto da minha boca.

Eu pensava que o problema era somente você, quando na verdade o problema também era eu (ou apenas eu). Eu, que não conseguia enxergar o que estava na minha cara. Agora eu acho graça. Graça da desgraça que tornei a minha vida por não ter querido enxergar o que eu não preciso nem abrir os olhos para ver. Basta sentir.

O pranto que me invadiu e me derrotou foi o mesmo que tomou conta de mim e me libertou. Me livrou dessa tormenta. E agora você transborda para fora de mim e desce pelo ralo abaixo.

Hoje, eu me sinto livre. Meu corpo, antes pesado, flutua, sereno.

Hoje, o sol nasceu especialmente pra mim. Eu, sem perceber, abri os olhos e sorri para a luz que entrava sorrateira por baixo da cortina. Me espreguicei, sem preguiça de levantar da cama. Sem medo de abrir os olhos e encarar a vida e os fatos. Saltetando pelo quarto. Sem motivos específicos para sorrir. Sem motivos para chorar. Celebrando a minha vida e os meus recomeços. Agradecendo pelos tropeços que me fizeram ser quem sou nessa manhã.