O nosso amor

Eu já tinha esquecido que quando você se aproxima, alguma coisa faz com que meu corpo queira abraçar o seu. Te sentir. Sentir o sopro da sua respiração no meu rosto. Eu já tinha me esquecido desse sentimento tão incomum e desconhecido. Eu já tinha esquecido da forma que você sorri, simplesmente por estarmos lado a lado, só eu e você. Eu já tinha esquecido que eu não preciso lembrar do nosso amor para te amar. O nosso amor a gente guarda. De vez em quando. Mas, as vezes, de repente, a gente tira ele da gaveta. E se ama. O nosso amor é assim. É diferente. É latente. É bonito. É grandioso. É único. É momentâneo, mas também eterno. O nosso amor é uma vontade que vem do nada. Que a gente não controla, que a gente esconde. É a vontade de estar junto o tempo todo, mesmo que o tempo todo não seja todo o tempo. O nosso amor é amar tanto, que a gente prefere guardá-lo para que ele nunca acabe, ainda que tenhamos certeza da imortabilidade de nosso louco e inexplicável amor.

Meu eu de hoje

Livre pra ser o que eu quiser, mesmo sendo muitas coisas, procuro em minha liberdade alguma coisa pra eu ser. A vida é uma incansável busca. Ainda que seja uma busca por algo a se buscar. Luta contra o luto. Luta contra a solidão que aparece em um certo minuto. Busca por nós mesmo em meio a uma multidão que nos esconde. O encontro de nós mesmo, que nos desencontramos de alguns dos muitos eus que somos feitos. A vida é uma constante redescoberta. Um inesgotável e eterno recomeço.

Razões irrazoáveis

As pessoas sempre procuram razão para tudo.
Se você escreve de amor, tá amando.
Se escreve de ódio, tá com o orgulho ferido.
Se escreve indiferente, tá amargurada.
E se escreve feliz, tá mentindo.

Hoje eu te vi

Hoje eu te vi passando. Estava longe. Te observei. Não tinha nada para te falar, por isso não me movi. Aliás, não tinha como me mover, por isso nada falei. Agora eu resolvi te escrever. Agora eu resolvi por no papel o que não consegui  proferir diante da sua cara lavada. Aqui escrevo. Mas hoje, eu não quero poesia. Eu quero ser fria. Quero dizer, de forma desorganizada, nada romântica, que você é uma pedra no meu sapato. Quero dizer, de forma clichê, como você é clichê. Não preciso me encher de inspiração para mandar você ir a merda. Vai a merda é uma expressão que se satisfaz por ela mesma e dispensa qualquer espécie de lirismo. Não está nada bonito, não é? Mas é exatamente isso que você merece. Uma mensagem pequena para uma pessoa pequena. Hoje eu vou rir da sua cara. Aquele riso de deboche que você odeia. Vou sentar e assistir a queda do seu chamado império. Agora eu consigo perceber what a loser you are. Em uma competição com você mesmo, você perderia. É patética a forma que você se gaba com o seu jeitinho nada demais. Baixe o seu ego. Você vai se afogar na sua pretensão. Dessa vez eu não estarei lá para te acudir.

Instrospecção

E no silêncio do meu quarto me deparo diante de mim mesma. Sinto como se estivesse passando por uma neblina. Concentro-me para tentar enxergar. Sinto medo, pois não consigo ver o caminho. Sei que há curvas mas não sei para que lado virar.
Então, paro no acostamento. Não procuro mais respostas. Procuro um ponto de equilíbrio. Eu poderia me arriscar. Continuar na estrada e aventurar-me passando em meio a neblina. Talvez encontrasse uma linda vista a minha espera. Mas a razão me faz parar. Afinal, acidentes na estrada são comuns, não é? Sei que as vezes, por uma milagre de Deus ou simplesmente sorte, saímos ilesos. Mas não posso e não quero correr o risco de machucar ninguém.  
Vou ficar aqui. Dentro do carro. Até que a neblina vá embora e eu possa continuar o meu caminho. Sem riscos, sem medo, sem dúvida. A espera pode ser, ou é sempre, dolorosa. Mas eu aguento. E quando o momento de partir chegar, arrancarei com o carro. Com os vidros abertos e o ar puro soprando meu rosto. Aproveitarei cada segundo da estrada. E quando a linda vista aparecer, eu saberei que a espera valeu a pena.

Lembra?

Lembra aquele dia? Você se deparou diante de mim e se desconcertou com a minha presença. E, com um jeito intimidado, tentava puxar um assunto balela, que me fazia rir e me encantar com o seu jeito meio bobalhão.

Lembra aquele dia? Você sussurrava em meu ouvido que eu estava linda, que me queria só pra você, convencendo-me de que eu deveria ser apenas sua.
Lembra aquele dia? Você partiu por alguns dias, que pareciam a eternidade, me fazendo ser consumida pela saudade e desejo de estar ao seu lado.
Lembra aquele dia? Você me levou pra sua casa. Me beijou de um jeito que ninguém havia beijado. Colocou as mãos no meu rosto sem deixá-lo se afastar de seu corpo. Fez com que eu delirasse por alguns minutos naquele sofá, silenciosamente, sem que ninguém percebesse.
Lembra aquele dia? Nos abraçávamos no carro, sem falar nada. O silêncio era interrompido pelo barulho de nossa respiração e da música que tocava bem baixinho ao fundo.
Lembra aquele dia? Seu sorriso estava mais lindo do que nunca. A felicidade estampava-se em sua face. A noite, as pessoas, a música ao redor, não tinham a menor graça. Me bastava te olhar, olhando nos meus olhos, cantando aqueles versos tão clichês para mim. Me bastava sentir você chegando cada vez mais perto. Seu corpo, balançando levemente contra o meu, no ritmo da música. Suas mãos enroscadas por entre os meus cabelos, acariciando-os e puxando-os levemente ao mesmo tempo.
Lembra aquele dia? Era domingo e assistíamos ao futebol na televisão. Você se concentrava no jogo e me fazia carinho. Eu, embora estivesse olhando para aquela chatice futebolística, só prestava atenção na forma que seu dedo ia e voltava, sutilmente, acariciando minha mão. Só prestava atenção no seu perfume, que penetrava para dentro de mim dando-me uma vontade louca de te beijar.
Lembra aquele dia? Sua boca disparou em minha direção: “eu te amo”. Me fez perder o chão, me fez perder o prumo. Me fez perder o fôlego, perder o rumo. Me deixou com um sorriso que ia de orelha a orelha e acelerou meu coração de uma maneira que não sabia ser possível.
Lembra aquele dia? Você me amou, me desejou, me fez e foi feliz ao meu lado.
Eu não preciso lembrar. Eu nunca esqueci.