Divã

Minhas incertezas, medos e frustrações me consumiam. – Alô? Gostaria de marcar uma consulta. Lá estava eu a caminho do Jardim Botânico. Nervosismo. Curiosidade. Chego. Sento no sofá. Blá, blá, blá, até que as verdades, ou apenas a verdade, pulasse para fora de mim. Naquele momento ela entrou na minha vida.

Toda semana era assim. Eu falando de uma desconhecida (eu mesma) para outra desconhecida (ela). Com o tempo fomos nos conhecendo melhor. Eu, conhecia a mim mesma. Ela, conhecia a mim. Eu, era dor e medo. Ela, cumplicidade e segredo.

A cadeira em que sentava, antes desconfortável, foi tornando-se praticamente uma nuvem do céu. Ao sentar me sentia como se estivesse ouvindo a voz dos anjos.

Anjo desconhecido, enviado por Deus. Não sabia de onde ela vinha, do que gostava. Se preferia cinema ou teatro. Se era louca, se era santa. Adulta, criança. Mas havia coisas que eu sabia. Sabia a cara que fazia quando estava surpresa. A forma que seus olhos me diziam que eu estava fazendo tudo errado. Sabia a maneira que ria quando achava algo engraçado e a expressão de seu rosto quando queria me dizer que ia ficar tudo bem.

Aquele ponto de interrogação que sentava-se diante de mim transformou-se no meu Prozac, meu Dormonid. Por mais que não a conhecesse, sabia do bem que me fazia.

A ela agradeço por ter me feito inúmeras perguntas que não soube responder. Por ter enxugado minhas lágrimas mesmo quando não escorregavam pelo meu rosto. Ou, tê-las enxugado, mesmo que de longe, quando não se continham dentro dos meus olhos. Agradeço por ter acalmado meu coração quando eu sentia que ia explodir dentro de mim; e tê-lo reconstruído quando se quebrou em mil pedaços. Agradeço por ter me entendido mesmo quando as palavras saíram desordenadas de minha boca e, querendo dizer alguma coisa, eu não dizia nada. Agradeço por simplesmente iluminar minha estrada todos os dias.

Há quem diga que ser anjo da guarda é apenas uma profissão. Para mim, é uma dádiva, um presente (presente meu, é claro).